Portugal dos Pequeninos

Que a cobardia é um dos defeitos do povo dos brandos costumes já não é nenhuma novidade. Que pessoas se escondam debaixo do anonimato para caluniar outras dando largas ao seu sentimento de inveja, motivado por toda a sua mesquinhez e pobreza de espírito, é infelizmente neste país uma triste realidade. Os portugueses nunca se deram bem com o sucesso dos seus pares: se alguém tem um bom emprego é por cunha, se alguém é inteligente é porque teve sorte. Em Portugal nunca há lugar ao mérito e à recompensa do esforço. Foi sempre por sorte, por alguma mão amiga, por ter pais ricos, amigos influentes ou talvez ter ido ao BES, que os bem aventurados lusitanos tiveram a fortuna do sucesso.

A inveja é um sentimento feio, normalmente fruto da pequenez e pobreza de espírito das quais se alimenta. Miguel Sousa Tavares (MST) escreveu um romance que teve a rara mas feliz fortuna de juntar qualidade com número de leitores. Num país pequenino, em que MST já é um personagem suficientemente mediático e bafejado pela sucesso, tal facto não podia deixar de passar impune. E assim parece que surgiu um blog (3 anos depois do livro ter sido publicado) a dizer que o autor não tem mérito nenhum por se ter limitado a traduzir e adaptar um livro, que por acaso MST cita como uma das suas fontes, sobre os movimentos de independência na Índia, e o ter transposto para São Tomé e Príncipe do início do século XX.

MST não precisa de mim como advogado de defesa, até porque neste blog escrevo debaixo de um pseudónimo e como tal a coberto de um anonimato que tanto o repudia, embora, no meu caso, as razões deste anonimato nada tenham a ver com o facto de querer caluniar ninguém impunemente. Mas, não posso estar mais inteiramente de acordo com MST quando conclui na sua crónica do Expresso desta semana o seguinte: “(…) fiquei a saber e não sabia, que os blogues, mesmo anónimos, são uma fonte de informação privilegiada e credível para o nosso jornalismo.”

Por muito que custe neste Portugal dos pequeninos, nem sempre o sucesso é apenas fruto de influências e amigos, muitas vezes é resultado do talento, esforço e inteligência de quem se entrega e aposta a fazer o melhor que pode naquilo a que se propõe a realizar. Muito mal vai o jornalismo português quando põe a palavra de MST com o mesmo valor de alguém que não tem a coragem de assinar e assumir a gravidade das acusações que lhe faz.