Periférico

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terça-feira, julho 01, 2008

O Segredo

Era uma vez um segredo bem guardado, mas nem sempre bem estimado. O dono dizia-lhe o quanto era original e precioso, um autêntico tesouro. Mas o segredo estava cansado de estar às 7 chaves guardado. Queria que o dono o assumisse, que partilhasse com os outros a sua existência e que o deixasse brilhar no exterior do seu esconderijo. No entanto, o dono tinha medo de o expor, receio de o assumir, medo das consequências desse seu acto.

Ter descoberto segredo tão precioso tinha sido uma sorte e queria-o só para si. Não queria que mais ninguém soubesse da sua existência, tinha receio que os outros furtassem o que de precioso nele tinha encontrado.

Contudo o dono não se apercebia que o segredo ficava deprimido durante o tempo em que o deixava sozinho no seu esconderijo. Este não suportava brilhar sozinho, era um brilho fútil, inútil, não partilhado e de pura vaidade. O tempo foi passando e o tempo que o segredo passava sozinho era cada vez maior. O seu ego necessitava de ser alimentado, o tempo que o seu dono lhe dedicava era cada vez mais escasso e não lhe chegava, precisava de outros, precisava de ser assumido e partilhado.

Um dia o dono abriu o cofre e retirou cuidadosamente a pequena caixa de madeira trabalhada em que o guardava. Tinham já passado vários anos desde que o encontrara e o tinha escondido de qualquer outro olhar. E qual não foi o seu espanto quando em vez de encontrar o seu diamante brilhante e precioso, nada mais havia na caixa do que um pedaço de grafite.

O segredo tinha esgotado o seu brilho, tinha brilhado sozinho até se reduzir a uma forma menos preciosa de carbono. O dono não entendeu, ficou perplexo, quem teria tido a audácia de trocar o seu diamante por aquilo?

Furioso, deitou fora o seu segredo agora reduzido a uma cor baça e escura. O segredo não brilhava, mas finalmente sentia-se livre. Foi reciclado e junto com outros pedaços de grafite transformou-se num veio de um lápis. Sobre o papel as suas partículas transformaram-se em letras, palavras e desenhos. Sentiu-se feliz, finalmente tinha sido assumido e partilhado.

(Post à la Pessoana mas com final feliz ;-))

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