Periférico

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quarta-feira, janeiro 23, 2008

Snooker


Provalvemente, jogamos entre as quatro
estações. A bola passeia pelo outono, bate na tabela
do inverno, entra no buraco da primavera, sai
pelo verão. Enquanto te vejo, lembro-me
das formigas na terra nua: como, também elas,
se metiam pelos buracos de setembro, sabendo que não mais
iriam sair. Carregadas de comida, iam prontas
para a fábula. Um excessivo rigor faz-me contá-las: uma
a uma, ficam-me registadas no contador da memória. Tu,
entretanto, vais acertando as bolas. Encosto-me
à parede, e desvio os olhos para o teu rosto
que me espera. Agora, são outras
as estações. Uma após outra, deixo-as para trás,
enquanto a noite cai. Os teus
cabelos roçam-me a memória. Um vento atravessa esta mesa em
que fugimos ao sono, e o jogo recomeça com o triângulo
ao meio.

Nuno Júdice in Cartografia de Emoções, 2001, Publicações Dom Quixote


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