Snooker
Provalvemente, jogamos entre as quatro
estações. A bola passeia pelo outono, bate na tabela
do inverno, entra no buraco da primavera, sai
pelo verão. Enquanto te vejo, lembro-me
das formigas na terra nua: como, também elas,
se metiam pelos buracos de setembro, sabendo que não mais
iriam sair. Carregadas de comida, iam prontas
para a fábula. Um excessivo rigor faz-me contá-las: uma
a uma, ficam-me registadas no contador da memória. Tu,
entretanto, vais acertando as bolas. Encosto-me
à parede, e desvio os olhos para o teu rosto
que me espera. Agora, são outras
as estações. Uma após outra, deixo-as para trás,
enquanto a noite cai. Os teus
cabelos roçam-me a memória. Um vento atravessa esta mesa em
que fugimos ao sono, e o jogo recomeça com o triângulo
ao meio.
Nuno Júdice in Cartografia de Emoções, 2001, Publicações Dom Quixote
4 Comentários:
At 11:37 da manhã, janeiro 24, 2008, anamoris said…
A vida é um jogo, estamos sempre a perder e a ganhar, a acabar e a recomeçar o jogo.
Beijos
At 5:04 da tarde, janeiro 24, 2008, pessoana said…
Perdeste muito dinheiro, foi?
:-)
At 3:26 da tarde, janeiro 25, 2008, anamoris said…
Bom fim de semana Amigo Periférico
At 4:43 da tarde, janeiro 25, 2008, panamá said…
Muito lindo! Obrigada pelo presente, meu querido. É bem inspirador! Beijocas e bom fim-de-semana, jóinha;)
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