Periférico

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sexta-feira, julho 01, 2005

Tom Zé


No Sábado passado, desloquei-me aos Jardins do Palácio de Cristal para escutar um personagem inclassificável da música brasileira. De tão desconcertante é difícil aplicar-lhe um rótulo que não seja génio ou louco! O concerto foi fantástico, surpreendente e fora do convencional!

Perante um público heterogéneo, de várias gerações, Tom Zé conseguiu a proeza de nos pôr todos a sorrir, embora os temas da música que apresentava ao vivo fossem tudo menos divertidos. Debaixo de toda aquela loucura criativa e cénica, um espírito crítico de uma lucidez lancinante denunciava a condição da mulher nas camadas mais baixas da sociedade brasileira.


Este concerto foi baseado no seu último trabalho Estudando o Pagode- Na Opereta Segregamulher e Amor, obra estruturada em três actos, 16 cenas e cuja sinopse transcrevo na íntegra:

“Negro, altura média, Maneco Tatit é abertamente segregado por Dr. Burgone, professor universitário. O jovem Maneco, por sua vez, maltrata a condição feminina na pessoa de Teresa, dezassete anos, sua namorada desempregada. Ela se prostitui para pagar o curso de Psicologia na PUC, de onde Dr. Burgone a salvou de ser expulsa pelo roubo de um livro. Pai de Tatit, Dr. Burgone só vai descobrir o facto no último capítulo, depois de matá-lo por ciúme.”

Fundador do movimento Tropicalista a par de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia, ficou esquecido durante anos vítima da fraca recepção dos seus trabalhos mais experimentalistas da década de 70, acabou sendo resgatado do esquecimento e apresentado ao mundo por David Byrne em 1990 com a colectânea The Best of Tom Zé.

"A música de Tom Zé é diferente de qualquer música brasileira que ouvi até hoje... Expande incessantemente os limites da canção popular, adoptando formas inesperadas, que nos surpreendem e encantam, com percepção aguda dos acontecimentos. Olha a grande cidade com olhos -- e o ouvidos -- de poeta. Descobre beleza em regiões estranhas. [sua música] Nos dá esperança. " diz o próprio David Byrne.

Felizmente que foi resgatado, aos 68 anos Tom Zé continua a fazer música incatalogável e indispensável. A descobrir!

Bom fim-de-semana! :-)

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