Periférico Elitista
Sexta-feira passada fui ver a peça O Inimigo (1882) que estava em cena no pequeno auditório do Rivoli. Este texto do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906) mantém a sua actualidade, ao criticar a manipulação da opinião pública e a força da maioria compacta, mas não é propriamente dele que vou falar. O que me leva a escrever este artigo foi o facto de ter assistido a este espectáculo na companhia de alunos de duas escolas secundárias.
A ideia de levar os jovens ao Teatro é louvável, incutir hábitos culturais nunca fez mal a ninguém, bem pelo contrário, mas o que se passou na sexta-feira naquela sala leva-me a concluir que já não há respeito, nem pelos professores, nem pelas outras pessoas. Esta falta de respeito começou pela forma como estes jovens se instalaram na sala, não respeitando quem já estava sentado e continuou por toda a peça onde se manteve um burburinho constante, pontuado aqui e ali por comentários em tom de voz demasiado audível pela restante plateia.
A encenação, que colocava os actores muito próximos da primeira fila em alguns momentos da peça, sofreu até o risco de ter a participação física duma jovem espectadora que, a certo momento, se ria de forma histérica e que por pouco não atingiu um dos actores. A jovem lá acabou por se acalmar, mas só quando uma das meninas do Rivoli lhe chamou a atenção.
O que mais me impressionou, para além deste comportamento de completo desrespeito pelos actores e pelas outras pessoas na plateia, foi a passividade dos professores que os acompanhavam. De certeza que não fizeram um trabalho de sensibilização, nem de chamada de atenção de como estar numa sala de teatro. Os seus alunos comportaram-se como se fossem eles os donos e senhores da sala, marimbando-se completamente para os restantes.
É assim que se formam as futuras gerações? A falta de civismo choca-me e quando vejo seres em pleno processo educativo a comportarem-se desta forma perante a passividade total de quem tem alguma responsabilidade na sua formação, eu fico ainda mais chocado.
Chamem-me elitista, mas se é para se comportarem assim prefiro que estes seres imberbes não vão ao teatro, especialmente no mesmo dia que o Periférico.
A ideia de levar os jovens ao Teatro é louvável, incutir hábitos culturais nunca fez mal a ninguém, bem pelo contrário, mas o que se passou na sexta-feira naquela sala leva-me a concluir que já não há respeito, nem pelos professores, nem pelas outras pessoas. Esta falta de respeito começou pela forma como estes jovens se instalaram na sala, não respeitando quem já estava sentado e continuou por toda a peça onde se manteve um burburinho constante, pontuado aqui e ali por comentários em tom de voz demasiado audível pela restante plateia.
A encenação, que colocava os actores muito próximos da primeira fila em alguns momentos da peça, sofreu até o risco de ter a participação física duma jovem espectadora que, a certo momento, se ria de forma histérica e que por pouco não atingiu um dos actores. A jovem lá acabou por se acalmar, mas só quando uma das meninas do Rivoli lhe chamou a atenção.
O que mais me impressionou, para além deste comportamento de completo desrespeito pelos actores e pelas outras pessoas na plateia, foi a passividade dos professores que os acompanhavam. De certeza que não fizeram um trabalho de sensibilização, nem de chamada de atenção de como estar numa sala de teatro. Os seus alunos comportaram-se como se fossem eles os donos e senhores da sala, marimbando-se completamente para os restantes.
É assim que se formam as futuras gerações? A falta de civismo choca-me e quando vejo seres em pleno processo educativo a comportarem-se desta forma perante a passividade total de quem tem alguma responsabilidade na sua formação, eu fico ainda mais chocado.
Chamem-me elitista, mas se é para se comportarem assim prefiro que estes seres imberbes não vão ao teatro, especialmente no mesmo dia que o Periférico.
11 Comentários:
At 2:37 da tarde, novembro 14, 2005, Sara MM said…
Se estivesse lá o Zé Pedro Gomes, na plateia ou no palco, no mínimo dacapita-vos um a um!!! Ele bem diz que atingiu o limite para aturar coisas dessas... E eu já assisti!
Mas a maioria dos actores, e espectadores têm mesmo de se sugeitar... acabam sempre por não dizer nada :o(
Mas os professores, que raio... tens toda a razao! Fazer os menimos pagar bilhetes para irem curtir, é fácil! E o resto?!?!
BJS
PS- a sobre a peça?!
At 2:57 da tarde, novembro 14, 2005, noasfalto said…
O problema é que hoje em dia estas faltas de educação são visíveis não só no teatro mas em todo o lado.
No meu tempo sentavam os mais rebeldes à chapada!, que, digam o que disserem, é o que falta à nossa canalha! Um bom par de sopapos.
Abraço
At 3:39 da tarde, novembro 14, 2005, izzolda said…
O problema é que às vezes, por mais que os professores tentem, advirtam, expliquem com antecedência, etc., não conseguem controlar os alunos. E se já na escola eles são difíceis de 'controlar', que fará em visitas de estudo e afins. O respeito pelos outros ensina-se primeiro em casa! A culpa, provavelmente, será dos pais e não dos professores. Obviamente que os professores presentes poderiam ter feito alguma coisa, mas o quê, exactamente? Estar constantemente a mandá-los calar, fazendo mais barulho ainda? Essa responsabilidade teria de assumir o pessoal da sala, que vendo a situação, poderia expulsar os mais desordeiros.
Acho que a única solução viável para um professor nesse caso é dar um sermão posterior aos alunos e não os levar a mais lado nenhum.
Apesar destas 'teorias' todas, não deixo de concordar com a tua crítica. Só não concordo que a culpa seja só de quem está presente ;)
At 4:09 da tarde, novembro 14, 2005, Sukie said…
Acontecem várias coisas hoje em dia: os pais estão cada vez menos disponíveis para educar os seus filhos, e uma vez que assim é, usufruem do tempo que têm com eles para os mimar; os valores da sociedade vão desaparecendo à medida que o tempo passa; cada vez mais se confunde liberdade e direito de opinião com atitudes de desrespeito e falta de educção; os adolescentes e pré-adolescentes na sua maioria não estão interessados em peças de teatro, mas em coisas mais supérfluas, no entanto é próprio da idade: a parvalheira e o desejo desemfreado de chamar à atenção; cada vez menos os professores conseguem ter autoridade sobre os miudos mimados carentes de atenção pública; etc. O melhor é os professores não levarem grupos de pessoas com essas características ao teatro ou a qualquer outro sítio onde possam disturbar a atenção de quem está lá porque quer apreciar. É pena, mas é assim!
At 4:29 da tarde, novembro 14, 2005, Pitucha said…
Apoiado Periférico! Se há coisa que não se suporta é barulho nos teatros, cinemas, concertos...são uns bárbaros.
Beijos
At 10:02 da tarde, novembro 14, 2005, Poor said…
eu sei de uma professora que se recusa terminantemente a ir com miúdos mal criados onde quer que seja!concordo com a izzolda, os professores não se podem substituir à educação dos pais!
At 8:58 da manhã, novembro 15, 2005, Anónimo said…
O que descreves é muito triste.
Ao que isto chegou, que até um tipo decente já tem medo de ser apodado de elitista por querer assistir ao teatro como gente normal!
A passividade dos professores, evidentemente responsáveis, ecoa a passividade dos pais, e o demissionismo generalizado na sociedade portuguesa face à educação no sentido mais verdadeiro do termo. Parece-me que estamos lixados, meu caro Periférico.
Um abraço, Piotr.
At 2:37 da tarde, novembro 15, 2005, Dra. Laura Alho said…
Triste e revoltante :\
Deixo um beijinho, às pressas, mas cheio de carinho *
At 4:27 da tarde, novembro 15, 2005, Maria Heli said…
Gostei imenso....de ver com as tuas palavras!
beijo
At 11:01 da tarde, novembro 15, 2005, Ricardo Nascimento said…
O que vale é que também tu Brutus não pagaste bilhete, senão a Companhia de Teatro seria obrigada a devolver o cêntimo do teu IRS com que se locupletavam!!! Concordo inteiramente com a crítica, também eu fiquei incomodado com os meninos de escola e com aquela fulana que estava sempre a tossir, espera lá essa era a minha mulher que estava mal..... Abraço, Ricardo
At 3:03 da tarde, novembro 16, 2005, Carlos said…
Quando se está do lado de lá, isto é no palco, e mais ainda na direcção do espectáculo a situação também não é fácil. E complica-se ainda mais quando é preciso ponderar estratégias de gestão de companhia e opções de política e difusão cultural.
Saltando para lá do óbvio - dizer que apresentar um espectáculo para um grande número de espectadores interessados é mais interessante do que para um pequeno número - não tenho problema em admitir que prefiro uma pequena plateia concentrada do que uma grande plateia dispersa. Prefiro no momento, mas e depois? Depois fica a sensação que tudo está na mesma, que nada mudou, que a cultura e a arte continuam a ser só para alguns e o fosso, entre uns e outros, se vai alargando. Por isso estavam lá os alunos das escolas; Porque acreditamos que, daqui a 10 anos, e se continuarem a frequentar espectáculos com a escola, 90% deles vão saber que existem espectáculos, 70% vão até saber comportar-se numa sala, 50% saberão que a cultura é um bem essencial que o estado e os contribuintes devem assumir, 30% serão frequentadores ocasionais e 10%, quem sabe, terão o hábito de ir ao teatro. Se for assim valeu a pena mas pode ser que não seja...
Em todo o caso será bom não tomar a parte pelo todo pois noutras apresentações, como por exemplo as seguintes à referida, tudo correu normalmente e não houve qualquer razão de queixa dos alunos das escolas que, ainda que com desconto, pagaram bilhete como a generalidade dos espectadores.
Ainda assim fica um pedido de desculpa pelas condições menos boas que foram proporcionadas nessa noite. Esperemos que da próxima vez haja mais sorte!
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