Periférico

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terça-feira, março 29, 2005

Presunção de inocência



Maria Filomena Mónica (MFM) assina uma crónica no Público de hoje que nos deve fazer reflectir. Nesta crónica MFM disserta sobre a insuficiência da nossa justiça na utilização de provas reais e de em muitos casos por deficiência do próprio processo de investigação toda a formulação da culpa se basear em prova testemunhal ou mesmo em confissão dos autores do crime.

MFM diz a certa altura algo que devia fazer um estado direito como o nosso repensar os seus meios e processos de investigação: “Um estudo retrospectivo das perícias de natureza sexual, feitas na Região Norte, no primeiro semestre de 2004, demonstrou que só metade dos casos remetidos para a delegação do Porto haviam sido observados até às primeiras 72 horas depois da ocorrência. A outra metade ultrapassou o limite, o que torna os testes inválidos; ou seja, mesmo quando a evidência está disponível, o Estado português é incapaz de a analisar atempadamente” e para realçar as consequências desta evidente lacuna no processo de investigação dá o seguinte exemplo: “Os resultados são trágicos. Se eu for violada no Porto, corro o risco de, quando os vestígios do crime forem examinados, já não terem qualquer valor para efeitos de prova.”

Utilizando o caso de Joana Cipriano como fio condutor da sua reflexão MFM termina com uma afirmação que faz meditar noutra vertente destes casos mais mediáticos que na maioria das vezes põem a nu as deficiências do sistema de investigação e judicial em Portugal: "Os algarvios que esperaram horas a fio pela carrinha que transportava Leonor Cipriano, estavam ali apenas com um desejo: linchá-la. A responsabilidade pela crise na justiça não reside apenas nas autoridades. Para o povo português, a presunção da inocência é um luxo para consumo de intelectuais."

Eu penso que neste aspecto o papel dos media não pode ser ignorado, muitos deles se encarregam de julgar as pessoas antes de serem julgadas. E como temos em Portugal aquele sábio ditado que diz que “Não há fumo sem fogo” basta criar uma grande fumaça para termos processos sumários da opinião pública. Tudo se tornava mais límpido e claro se os processos de investigação fossem mais céleres, discretos e baseados em provas materiais concretas, que não dessem azo a todo o tipo de especulações que infelizmente e gratuitamente pululam nos nossos meios de comunicação social.

4 Comentários:

  • At 3:55 da tarde, março 29, 2005, Blogger Poor said…

    É uma triste realidade, sem dúvida...sem solução aparente!
    Continuo a acreditar que ainda há pessoas (juízes, advogados,peritos...) que tentam fazer alguma justiça, caso contrário alguns de nós estariam perdidos!;)

     
  • At 4:27 da tarde, março 29, 2005, Blogger Periférico said…

    Amie,

    não duvido que haja boa vontade, em todo o lado há sempre alguém que ruma contra a maré, mas o sistema tem que ser revisto, tem que funcionar independentementes da boa vontade das pessoas.

    Angela,

    é incrível não é?

     
  • At 7:04 da tarde, março 29, 2005, Blogger Dra. Laura Alho said…

    Faltam-me as palavras.

    É inacreditável. E triste também.

    A propósito dos media, fiz um trabalho há alguns anos, na faculdade, e lembro-me perfeitamente de dizer que o jornalismo moderno deixa muito a desejar e até falha alguns cumprimentos dos Direitos e Deveres dos jornalistas.
    Infelizmente, ninguém quer saber disso. E anos volvidos, continuo a afirmar e a sentir que somos cada vez mais invadidos pelos media até aos mais íntimo de nós. As nossas opiniões, os nossos sentimentos em determinado caso são induzidos pelos media.

    E como combater esse mal?

    Beijinho grande *

     
  • At 10:13 da tarde, março 29, 2005, Blogger armando s. sousa said…

    Li a crónica no Público de hoje, e realmente quando a Maria Filomena Mónica diz que, para o povo português, a presunção da inocência é um luxo para consumo de intelectuais, todos devemos parar um pouco, para reflectir sobre a Justiça em Portugal.
    Um abraço.

     

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