Há artistas assim, que são sempre um prazer renovado a cada disco e especialmente a cada concerto.
Zeca Baleiro é um deles. E de preâmbulo aviso já que este artigo é tudo menos objectivo, já que eu sou um grande admirador da sua obra.
Ontem pela quarta vez vi-o ao vivo e mais uma vez não me desiludiu. Acho mesmo que
Zeca Baleiro é incapaz de dar um mau concerto tal é a riqueza da sua música, da sua simpatia e da sua voz extraordinária, envolvente e de uma doçura inclassificável. E como se não bastasse,
Zeca Baleiro possui ainda um refinado e irresistível sentido de humor.
Ao concerto de ontem só faço um reparo, o
Rivoli não é o espaço para a música de
Zeca Baleiro. Esta música entra-nos pelos poros e estimula cada um dos nossos nervos deixando-nos à flor da pele, tornando-se impossível continuarmos sentados. É uma música que se ouve também com o corpo, numa catarse que nos alivia e liberta. As cadeiras são um elemento demasiado castrador para uma música assim, abrangente e sem fronteiras, que não se deixa rotular, tal é a diversidade de territórios musicais por onde se move
Zeca Baleiro.
Ainda resisti sentado até à 6ª música, mas ao som da brilhante
(Despedi o) Meu patrão, o meu corpo cedeu e, vivendo cada nota na sua completa intensidade, deliciei-me de pé com o resto do concerto. As cadeiras só atrofiam esta música, bastou ver como, na última música do concerto
Vô Imbolá com todo o público levantado, havia muito mais corpos desejosos de se libertarem das cadeiras e dançarem ao som do Baleiro.
Para mim foi mais uma noite memorável deste verdadeiro artista brasileiro, só não ultrapassou a memória de uma noite mágica que vivi a 6 de Setembro de 2003 no Hard- Club em que empatia com o público, em parte também proporcionada pelo próprio espaço, foi extraordinária.
No entanto, a noite de ontem teve como singularidade uma versão, com um certo balanço, do
Frágil do
Jorge Palma já em encore, e a promessa de que esta versão, presente como faixa bónus no seu último disco
Baladas do Asfalto e Outros Blues, faz parte de um projecto de um disco a gravar no ano que vem de versões/covers de autores da música nacional que
Zeca Baleiro admira e que tenciona divulgar no Brasil.
Aqui fica o alinhamento para quem estiver interessado:
1. Serpente
2. Babylon
3. Quase Nada
4. Alma Não Tem Cor
5. Telegrama
6. Meu Patrão
7. Filho da Veia
8. Flores no Asfalto
9. Pastiche
10. Bandeira
11. Bicho
12. Amargo
13. Salão
14. Tudo Pra Ser Feliz
15. Mamãe Oxum
16. Piercing
Encore/Reset ;-)
17. Samba do Approach
18. Lenha
19. Heavy Metal do Senhor
20. Frágil
21. Vô Imbolá
Até breve
Zeca Baleiro!